Chamada Letras em Revista

2017-10-30

O mito, enquanto força geratriz de toda e qualquer narratividade, e o sagrado, traço essencial das religiões, possuem uma virtude proteica cuja plasticidade desafia as mutações da história e o câmbio incessante de modas e valores. Mito e sagrado atendem a necessidades estruturais do ser humano, são atos fundacionais: fazem emergir mundos, normas, valores. O homem é um animal simbólico que narra para dar um sentido humanizado ao tempo, como argumentou Paul Ricoeur. A secularização e o desencantamento do mundo (Weber), efeitos da modernidade, jamais puseram fim às histórias míticas e sagradas. Recalcado, reduzido algumas vezes a mero adorno ou entretenimento banal, associado à publicidade com fins instrumentais, manipulado pelos regimes totalitaristas, pode-se dizer que o mito e a sua fala sagrada sofreram, ao longo dos séculos XX e XXI, muitas distorções, mas resistiram. Se dermos ouvido a pesquisadores de relevo, como Ernst Cassirer, Mircea Eliade, Joseph Campbell e Eugene Webb, observaremos que ele sobrevive como força de criação nas mais variadas formas narrativas, como no cinema, na poesia, na literatura e mesmo em histórias em quadrinhos e animações televisivas. Essa transfiguração do mito lhes renovou o escopo e a função social. Para não multiplicar os exemplos, no âmbito da literatura, basta nos lembrarmos de dois autores seminais da modernidade cujo diálogo com o mito e o sagrado é fundamental: James Joyce e T.S. Eliot. O mesmo pode ser dito no universo da literatura brasileira, onde podemos arrolar nomes como o de Guimarães Rosa e de Clarice Lispector. O objetivo deste dossiê é, pois, refletir sobre a presença transfigurada e transfiguradora do mito e do sagrado em narrativas modernas e pós-modernas, do século XX à atualidade. Estimulamos abordagens fundadas nas mais diversas heranças intelectuais, de Carl Jung a Campbell, de Lévi-Strauss a Barthes, de Eliade a Webb, de Bachelard e Gilbert Durand a René Girard, entre tantos outros nomes que poderiam ser mencionados. Frisamos, por fim, que o presente dossiê evoca a palavra narrativa, e não literatura, uma vez que a proposta se abre a outras artes narrativas, a exemplo do cinema, da música popular e dos quadrinhos.

 

SEÇÃO LIVRE: funciona em fluxo contínuo, estando aberta para submissão de trabalhos inéditos na área dos estudos literários resultantes de pesquisa científica, originais de ensaios de caráter teórico fundamentados em revisão de literatura e resenhas de livros.

Organizadores: 

Prof. Dr. José Wanderson Lima Torres

Prof. Dr. Douglas Rodrigues de Sousa

Prof. Dr. Rodrigo Petronio Ribeiro

Prof. Dr. José Abílio Perez Junior 

Prazo de envio até 31 de outubro de 2017.