HAITIANOS NO AMAZONAS: REFERENCIAÇÃO E PODER

  • Milton Francisco da Silva Universidade Federal do Acre

Resumo

Nos últimos anos, os imigrantes haitianos se tornaram no Brasil uma nova minoria
imigratória. Muitos se fixaram no Estado do Amazonas, demandando uma política específica
do governo estadual. Enquanto o Governo Federal mostrava-se favorável ao acolhimento
desses imigrantes, o governo do Amazonas agiu, em parte, de forma contrária, conforme a
notícia que analisamos, do jornal Folha de S.Paulo. Objetivamos compreender como ocorre a
referenciação aos haitianos, correlacionando-a com as vozes recontextualizadas e com o
controle e poder evidenciados no texto. Nosso marco teórico é a Linguística Textual, a
Análise Crítica do Discurso e postulados do Círculo de Bakhtin. Entre os resultados,
destacamos: a identificação do referente imigrante haitiano vai além das formas linguísticoreferenciais;
ao recontextualizar a voz do então governador, o enunciador faz veicular a
avaliação negativa acerca dos haitianos; o enunciador se mostra “subordinado” aos donos
das vozes recontextualizadas.

Referências

BAKHTIN, M. M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
BOUDON, R.; BESNARD, P.; CHERKAOUI, M.; LÉCUYER, B.-P. Dicionário de Sociologia. Trad. A. J. P. Ribeiro.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.
BRASIL. Conselho Nacional de Imigração – CNIg. Resolução Normativa no 97, de 12 de janeiro de 2012. Dispõe
sobre a concessão do visto permanente previsto no art. 16 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, a nacionais do
Haiti. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=116083. Acesso em: 04 set. 2016.
CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012.
DUTRA, D., et al. Os estrangeiros no mercado de trabalho formal brasileiro: perfil geral na série 2011, 2012 e 2013.
In: CAVALCANTI, L.; OLIVEIRA, A. T.; TONHATI, T. (Orgs.). A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho
brasileiro. Brasília: Cadernos do Observatório das Migrações Internacionais. 2014. p. 48-81.
FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. Oxon / New York: Routledge, 2003.
FERNANDES, D.; CASTRO, M. da C. G. de. A migração haitiana para o Brasil: resultado da pesquisa no destino.
Cuadernos Migratórios, n. 6 (La migración haitiana hacia Brasil: características, oportunidades y desafios). Buenos Aires:
OIM, 2014. p. 51-66.
FERNANDES, D.; MILESI, R.; FARIAS, A. Do Haiti para o Brasil: o novo fluxo migratório. Caderno de Debates:
Refúgio, Migrações e Cidadania, Brasília, n. 6, 2011, p. 73-97. Disponível em: http://www.migrante.org.br/IMDH.
Acesso em: 17 abr. 2017.
FERNANDES, J. S. Operação Haiti: ação humanitária ou interesse político para o Brasil? Revista Conjuntura
internacional, Belo Horizonte, 22 mar. 2010. Disponível em: http://www.pucminas.br/conjuntura. Acesso em: 17 abr.
2017.
FRANCISCO, M. Maratona Atenas 2004: a (re)categorização em textos jornalísticos. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 23:2,
p. 167-202, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ delta/v23n2/a01v23n2.pdf. Acesso em: 04 set. 2016.
______. Categorização referencial na língua falada: colaborar e avaliar. Revista Internacional de Linguística Iberoamericana,
Frankfurt / Madrid, n. 12:2, p. 51-70, 2008.
FREIRE, J. R. B. Ai de ti, Haiti! Diário do Amazonas, 29 jan. 2012, Taqui Pra Ti, Blogs, D24am.com. Disponível em:
http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=958. Acesso em: 20 jun. 2012.
HAMEL, R. E. Direitos linguísticos como direitos humanos: debates e perspectivas. In: OLIVEIRA, G. M. de
(Org.). Declaração Universal dos Direitos Linguísticos: novas perspectivas em política linguística. Campinas: ALB /
Mercado de Letras; Florianópolis: Ipol, 2003, p. 47-80.
HANDERSON, J. Diáspora. As dinâmicas da mobilidade haitiana no Brasil, no Suriname e na Guiana Francesa.
2015. 430 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2015.
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
______. Introdução à linguística textual: trajetórias e grandes temas. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
(Coleção Linguagem).
______. Flagrantes da construção interacional dos sentidos. In: BRAIT, B.; SOUZA-E-SILVA, M. C. Texto ou
discurso? São Paulo: Contexto, 2012. p. 129-143.
Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, V. 08, n. 01, jan./jun. 2017. 52
MARCUSCHI, L. A. Quando a referência é uma inferência. XLVIII Seminário do GEL – Grupo de Estudos Linguísticos
de São Paulo. Assis. Texto não publicado, versão preliminar, 2000.
______. Anáfora indireta: o barco textual e suas âncoras. In: KOCH, I. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C.
(Orgs.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005. p. 53-101.
______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. (Educação linguística, 2)
______; KOCH, I. G. V. Estratégias de referenciação e progressão referencial na língua falada. Gramática do Português
Falado– Volume VIII: Novos estudos descritivos. Campinas: Editora da UNICAMP, p. 31-56, 2002.
MONDADA, L. La construction de la référence comme travail interactif: accomplir la visibilité du détail anatomique
durant une opération chirurgicale. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, n. 44, p. 57-70, 2003.
MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos
de referenciação. Trad. M. M. Cavalcante. In: CAVALCANTE, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Orgs.).
Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003 [1995]. p. 17-52.
PEDRO, E. R. Análise crítica do discurso: aspectos teóricos, metodológicos e analíticos. In: PEDRO, E. R. (Org.).
Análise Crítica do Discurso: uma perspectiva sociopolítica e funcional. Lisboa: Caminho, 1997. p. 19-46.
SILVA, M. F. da. Subespecificação e inferenciação na fala não planejada. Revista Letras, Curitiba, n. 68, p. 185-200,
2006. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/letras/article/view/6145/4387. Acesso em: 04 set. 2016.
______. Haitianos no Brasil: uma leitura crítica da notícia no jornalismo impresso. Tese de doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 2016. 486 f.
SILVA, S. A. da. Braços para toda obra? Os haitianos e o mercado de trabalho no Amazonas. Cadernos CERU, São
Paulo, v. 26, n. 1, p. 85-99, jun. 2015. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/ceru/article/view/111166/109469. Acesso em: 11 abr. 2017.
THOMAZ, O. R. O terremoto no Haiti, o mundo dos brancos e o Lougawou. Novos estudos – CEBRAP, São Paulo,
86: 23-39, mar. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=0101-
330020100001&script=sci_issuetoc. Acesso em: 04 set. 2016.
VAN DIJK, T. A. Discurso e poder. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
______. Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva. Trad. R. Ilari. São Paulo: Contexto, 2012.
Publicado
2018-02-20
Como Citar
SILVA, Milton Francisco da. HAITIANOS NO AMAZONAS: REFERENCIAÇÃO E PODER. LETRAS EM REVISTA, [S.l.], v. 8, n. 01, p. 21, fev. 2018. ISSN 2318-1788. Disponível em: <https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/17>. Acesso em: 21 nov. 2024.