CONSIDERAÇÕES SOBRE O PORTUGUÊS ANGOLANO E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM ANGOLA

  • Yuran Fernandes Domingos Santana UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA
  • Alexandre António Timbane UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA http://orcid.org/0000-0002-2061-9391

Resumo

Angola é um país que exibe uma profusa presença de línguas e povos, sendo uma nação plurilíngue e pluricultural. Entretanto, a língua portuguesa é a única língua constitucionalmente oficializada e possui também o estatuto de veículo e matéria de ensino. Atualmente, o português possui 71% de falantes (ANGOLA, 2016), no entanto, fato é que a variedade falada pelos angolanos carrega as marcas dos processos de contato linguístico entre o português e as diversas línguas africanas existentes no território angolano. Dessa forma, o português angolano é uma variedade falada no espaço geográfico de Angola e reflete as experiências e particularidades sócio-históricas dos angolanos. Com base numa pesquisa bibliográfica, busca-se no presente trabalho refletir a respeito do português angolano e o preconceito linguístico a partir desta variedade, posto que diversos falantes angolanos, inclusive aqueles que têm a língua portuguesa como L1, julgam não saber falar português porque a língua portuguesa falada por eles não obedece às normas do português europeu. De mais a mais, os programas de ensino de língua portuguesa nas escolas do país obedecem à norma do português europeu, estabelecendo como padrão de “língua certa” um modelo que se afasta da variedade falada até pela própria elite escolarizada e urbana do país.

##submission.authorBiography##

##submission.authorWithAffiliation##

Doutor em Linguística e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP-Brasil, Mestre em Linguística e Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane-Moçambique. É professor Permanente da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Instituto de Humanidades e Letras, Campus dos Malês, Bahia. Tem experiência no ensino e na pesquisa na área de Sociolinguística e Dialetologia com enfoque na variação e mudança lexical do Português (Estudos do Léxico), Contato linguístico e Línguas Bantu. Membro do Grupo de Pesquisa África-Brasil: produção de conhecimento, sociedade civil, desenvolvimento e Cidadania Global. Editor-chefe da Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras.

Referências

ALVES, Lincoln Máximo. A arte de fazer perguntas. Novembro/2013.
ANGOLA. Constituição da república de Angola. Luanda: Assembleia Nacional, 2010.
AVELAR, Juanito; GALVES, Charlotte. O papel das línguas africanas na emergência da gramática do português brasileiro. Lingüística, Montevideo, v.30, nº2, p.241-288, dic. 2014. BAGNO, M. Preconceito linguístico. 56.ed. São Paulo: Parábola, 2015.
BAGNO, M. O racismo lingüistico do Brasil. Portal Geledés. 18 de set. de 2008. Disponível em: . Acesso em: 04 nov.2020.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2009.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Aspectos teóricos da ortografia. In: SILVA, Maurício et.al.(Org.). Ortografia da língua portuguesa: história, discurso, representações. São Paulo: Contexto, 2009, p.17-52.
CHICUNA, Alexandre Mavungo. Portuguesismos nas línguas bantu: para um dicionário português/kiyombe. 3.ed. Lisboa: Colibri, 2018.
DIAGNE, Pathé. História e linguística. In: KI-ZERBO, Joseph. (Org.). História geral da África: Metodologia e pré-história da África. vol.1, 2.ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.p.247-282.
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
FEHN, A.-M. (Eds.). Khoisan Languages and Linguistics. Proceedings of the 4th International Symposium July 11-13, 2011. Riezlern/Kleinwalsertal. Köln: Rüdiger Köppe Verlag, 2017.
HEINE, B.; HONKEN, H. The Kx’a family: A new Khoisan genealogy. Journal of Asian and African Studies (Ajia Afuriku gengo bunka kenkyu). Vol. 79, p.5–36, 2010.
HEINE, B.; NURSE, D. African languages: an introduction. Cambridge: CUP, 2000.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICAS. Resultados Definitivos do Recenseamento Geral da População e da Habitação de Angola. Luanda: INE, 2016.
INVERNO, L. A transição de Angola para o português: uma história sociolinguística. In: TORGAL, Luís Reis; PIMENTA, Fernando Tavares; SOUSA, Julião Soares (Org.). Comunidades imaginadas: nação e nacionalismos em África. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2008. p.1-19.
FIORIN, José Luiz. Fala da polêmica sobre o livro didático, 2011. 1 vídeo (16:10 min). Publicado pelo canal Editora Contexto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pOkhXDRRxSc. Acesso em: 04 nov. 2020.
KÖHLER, Oswin RA. Khoisan languages. In: Encyclopædia Britannica, Inc. 2004.
MAHO, Jouni Filip. NUGL Online. The online version of the New Updated Guthrie List, a referential classification of the Bantu languages. 2009. Disponível em: . Acesso em: 9 jan. 2021.
MIGUEL, Maria Helena. Dinâmica da pronominalização no português de Luanda. Luanda: Mayamba Editora, 2014.
MORTON, F.; HITCHCOCK, R. Tswana hunting: Continuities and changes in the Transvaal and Kalahari after 1600. South African Historical Journal, vol.66, nº3, p.418–439, 2014.
NGUNGA, Armindo. Introdução à linguística bantu. Maputo: Imprensa Universitária, 2015.
PETTER, M. Introdução à linguística africana. São Paulo: Contexto, 2015.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. 2ª ed. Campinas, Mercado de Letras, 2012.
TIMBANE, Alexandre Antônio. MANUEL, Catia. O crioulo da Guiné-Bissau é uma língua de base portuguesa? Embate sobre os conceitos. Revista de Letras JUÇARA, Caxias – Maranhão, v. 2, n. 2, p. 107-126, dez. 2018.
TIMBANE, Alexandre António; SANTANA, Yuran Fernandes Domingos; AFONSO, Euclides Victorino Silva. A cultura hip-hop e os angolanismos léxico-semânticos em Yannick Afroman: a língua e a cultura em debate. Afluente, Bacabal - Maranhão, v.4, n.12, p. 104-128, mai./ago. 2019.
UNDOLO, M. E. da S. Caracterização da norma do português em Angola. 330p. Tese. Doutor em Linguística. Universidade de Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Évora, 2014.
ZAU, Domingos Gabriel Dele. A Língua Portuguesa em Angola: um contributo para o estudo da sua nacionalização. 204p. Tese de doutorado. Universidade da Beira Interior, Departamento de Letras, Covilhã, 2011.
Publicado
2022-04-08
Como Citar
SANTANA, Yuran Fernandes Domingos; TIMBANE, Alexandre António. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PORTUGUÊS ANGOLANO E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM ANGOLA. LETRAS EM REVISTA, [S.l.], v. 12, n. 01, abr. 2022. ISSN 2318-1788. Disponível em: <https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/377>. Acesso em: 22 dez. 2024.