Gordofobia no Twitter: um estudo sobre impolidez linguística
Resumo
O presente artigo se propõe a descrever determinadas estratégias de impolidez (CULPEPER, 2016), associando-as à produção do discurso ofensivo e ao fomento do estigma em realção ao corpo gordo. Como fundamentação teórica, adotamos os trabalhos de Culpeper (1996, 2011, 2016), Bousfield (2008), Brown e Levinson (1987), Corrigan (2004), Corrigan e Watson (2002), Corrigan, Watson e Barr (2006), Verhaeghe, Bracke e Bruynooghe (2008), Felicissimo et al (2013) e Araújo et al (2018). A análise foi feita a partir da coleta de postagens na rede social Twitter. Em linhas gerais, os resultados indicam uma associação estreita da impolidez para ofender ou discriminar com a manutenção discurso gordofóbico, o aumento da produção de discursos autodiscriminatórios e a diminuição da baixa autoestima dos alvos do discurso impolido. A pesquisa indica como o discurso digital pode colaborar para que discursos preconceituosos continuem ecoando na sociedade.
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